Ao me fazer essas perguntas tive a mesma resposta: nada.
Não tenho talento e meus sonhos não realizados se transformaram em fantasmas que me assombram ecoando frustração. O que mais dói é a falta de esperança. Quem leu esse blog tem uma noção de como essas tormentas se repetem. O que me impulsionava a resistir era a esperança. Hoje tenho a certeza que não gostaria de ter de que não será como quero porque o futuro é hoje e meu presente é isso (não é tão ruim) mas a perspectiva não é das melhores.
Tenho depressão.
Não tenho uma base familiar, raízes. Queria tanto ter uma parentela unida, festa no fim de ano, comemorações, reuniões. Não há. É tudo solidão e frio na alma.
Não tenho amigos, ninguém se aproxima não porque somos melhores, mas porque somos incapazes, porque somos pobres, casa feia, sujos, roupas maltrapilhas. Somos abandonados. Esquisitos. estranhos, amarrotados, encardidos, desgrenhados, metidos, enlouquecidos, esnobes, hippies, deprimidos, sofridos, esquecidos. O pior disso tudo é a consciência exata de ser assim e não conseguir mudar.
Com o envelhecer as coisas pioram, o isolamento, a falta de interação social, a solidão, a dor no peito. O sempre estar inadequado, o não pertencer a nada, a clã nenhum, assim somos nós. Assim me dói.
Sabe, até que eu posso ser legal. Queria voltar para o útero. Simplesmente não dei certo aqui fora.
já ouvi tanto não que dói.
Queria pelo menos uma válvula de escape. Algo que não seja tão ruim.
A sociedade não gosta de mim. Não tenho ninguém para conversar, sabe, coisa simples como bater papo, sair com um colega, jogar conversa fora, não dá, não rola. Festa, não nos convidam e se convidar tenho que ir sozinha com um monte de filho e ser vista como a coitada que as pessoas olham de longe com pena.
Tenho uma casa feia e suja, típica de favela. Cansei de tentar mudar isso. Não depende de mim. Falar sobre isso parece ingratidão, afinal tenho comida em casa.
Obrigada por ter comida, Realmente sem comida não dá pra viver.
Grata, muito grata.
Mas apesar de todo amor pelo mundo e gratidão infinita meu coração dói. Palavras não ditas transbordam num blog vazio e solitário.
Eu poderia ter dado certo. Poderia ter sido melhor. Poderia um monte de coisa. Mas só o que eu tenho é essa dor que é um pecado em si mesma. Só não adianto meu desencarne porque tenho muito medo do inferno/umbral. Essas coisas existem, melhor respeitar. Meus filhos também não merecem isso.
Espero que depois que você ler isso veja como sua vida é boa e valorize seus momentos. Eu apesar da dor ainda sou grata a tudo, porque de fato tenho sim motivos para isso, o que destoa é minha dor e a incapacidade de mudar as causas dela ou de ser feliz apesar de tudo ser como é.
O pulso pulsa e a dor corrói.
Mas vai passar... Que Deus ajude a todos nós.