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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fadas existem!

Uma das minhas lembranças mais ternas e puras de minha infância foi de uma vizinha que cuidou do meu umbigo quando eu era bebê. Essa senhora, muito humilde e de um coração enorme me tratava com a proteção de anjo um da guarda. Éramos vizinhas de muro, morava na rua de trás da minha e para vê-la era subir num banquinho e papear. Lembro quando quando ia em sua casa, seu quintal para mim era enorme, gostava muito de olhar suas plantas, suas flores e ervas. Eles eram bem pobres, ela uma negra descendente direta de escravos,viviam muito ligado ao trabalho agrícola e tinham toda aquela sabedoria popular que esse se perdeu com o jargão científico. Pessoas que gostavam da outra e que ajudavam sem querer nada em troca. apenas amizade e prazer em ajudar. O nome dele era Dona Zaíra, que Deus a tenha em bom lugar. Agradeço muito tudo que fizeram por mim, todo olhar terno, afagos, a preocupação com meus choros, os conselhos que davam para minha mãe me criar melhor. Para mim era como se fosse uma fada, não era linda por fora, rica ou usava roupas espetaculares; era de uma beleza interior que irradiava tudo a sua volta, seu poder não era realizar desejos, mas aquecer corações. Pessoas assim são realmente raras, nos dias atuais nem parentes querem se doar para o outro. Não sei se ela soube que plantou em mim uma semente de amor e que era consciente de tudo, infelizmente perdemos contato e ela como era bem velhinha logo se foi. Certas memórias assim fazem a vida ter mais sentido e ter fé que a humanidade apesar de tudo guarda tesouros escondido onde menos se espera. Obrigada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Porque eu sou contra as cotas raciais

Atualmente, há o consenso de que a humanidade não é dividida em raças: somos todos de uma única raça, a humana. Nossas diferenças biológicas são mínimas e o que mais nos diferencia é a cultura. Apesar disso ainda há a questão da problemática racial. Os resquícios do passado não se apagam com facilidade. O negro que veio para as américas ser escravo tem no presente desafios semeados no passado que se não forem vencidos agora podem ser perpetuados no futuro. A primeira questão é que não sabemos diferenciar quem é e que não é negro no Brasil. A miscigenação é enorme, se um branco e um negro geram filhos essas crianças não podem ser simplesmente chamadas de negras. Elas são, no nosso caso, brasileiras, descendentes tanto de negros quanto de brancos. Há pessoas filhas de negros que podem ter a pele clara e outras, filhas de pessoas de pele clara, podem nascer com a pele mais escura devido a herança genética. Tanto é que não é raro pessoas de pele escura terem olhos claros como verdes e azuis. O que foi dito acima é a nossa realidade miscigenada hoje. Mas como o problema vem de tempos distantes - e nem tão distantes assim - vamos analisar alguns argumentos racistas que foram usados no passado para justificar a inferioridade da raça negra: a) a raça negra não contribuiu para o avanço do saber no mundo em nenhum campo, não há históricos de universidades, cientistas, grandes descobertas feitas por negros antes do contato com os europeus. Os povos africanos, em sua imensa maioria, eram compostos de uma vida tribal, tanto que os próprios negros venderam seus irmãos de cor para os brancos, ou seja a escravidão era aceita na África. b) os brancos achavam os negros parecidos com os animais pelos seus traços faciais e por isso logo julgaram que eram inferiores. Citar esses argumentos hoje soa de péssimo tom, mas não se pode deixar de considerar os raciocínios que sustentavam o racismo, pois um problema se resolve enfrentando suas causas e não ignorando-as. A escravidão acabou não só por uma questão de humanismo, solidariedade e evolução moral, mas muito também por uma questão econômica; manter escravos era muito dispendioso e não mais se sustentava com as mudanças econômicas que estavam ocorrendo no mundo. Quando acabou a escravidão o negro ficou a mercê de sua própria sorte. Não voltaram para África, seu continente de origem, ficaram aqui tentando sobreviver sem a proteção de seus senhores. Nem todos tiveram bom destino, analfabetos, muitos velhos sem aptidão para o trabalho ficaram abandonados. O que deveria ser feito? Empregar todos, aposentar, indenizar? Travar uma luta contra aqueles negros que venderam os primeiros escravos para o Brasil? Quem teria que pagar por tudo? Afinal os escravos foram comprados, tudo foi legal, na época. Bem, o pensamento era outro, não eram humanistas como hoje. Se assim fosse o Brasil nem seria Brasil, ainda seria terra onde os índios, os verdadeiros descobridores do Brasil, seriam maioria. Não foi pedindo licença e usando o rigor moral e ético que se construiu o país. Foi com toda sorte de meios que usaram na época, hoje repreensíveis, mas dos quais ainda colhemos o fruto. Os próprios índios que sobraram foram civilizados, usam drogas, vestem roupas e querem vacinas e ar-condicionado. Destrinchar a história pode ser surpreendente e ambíguo. Tentar julgar tudo com a visão de hoje sob a ótica de alguns pensadores é ser tendencioso e limitado. Corrigir o que antes foi certo e hoje sabe-se que é errado pode ser o mesmo que punir o adulto de hoje por suas travessuras infantis. O erro não deve ser perpetuado. Devemos lutar pela democracia racial. Digo mais, devemos ultrapassar esse conceito de raça e sermos todos vistos como humanos, independentes de rótulos. Não estamos mais naquela época, acabou a escravidão, não existem aqui africanos, europeus, índios, orientais, somos todos brasileiros; e é isso que conta e que deve prevalecer. O que passa disso, no meu ponto de vista, é ranço histórico, demagogia, um retorno às avessas ao racismo. O que vale é o brilho dos olhos e não a cor da pele.