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sábado, 29 de agosto de 2009

Fim de série

Hoje acabou uma série de tv que acompanho a muitos anos, Scrubs. Chorei muito no final. Típico de minha parte. Não que eu chore por qualquer coisa, mas dessa vez não deu pra segurar mesmo se quisesse.

Não vou falar muito dos detalhes da série. Pra mim foi a comédia mais emocionante de todas, o fantástico mais real. Somando a essas qualidades marcantes Scrubs acompanhou boa parte de minha vida de maneira profunda e tocante, foram boas risadas, insits, momentos emotivos que se suavizavam pela piada que é a vida. Reconheci ali muito de mim e do mundo, o formato bobo cheio de conteúdo penetrou em mim sem perceber, trouxe simpatia e empatia. Meia hora em que saímos do mundo e viajávamos nas alucinações dos personagens.

Mas não é só isso, como se fosse pouco. O fim da série me fez sentir que o tempo passa. E isso dói. E que bom que dói pois quer dizer que significou algo, que foi bom e tocou profundamente. Não que tudo tenha que ser provisório, mas a mera passagem do tempo é algo que pode causar melancolia, não que o hoje seja ruim mas que foi importante.

Apesar de todo choro e aperto no peito não estou triste, gostaria que essa série continuasse mas os atores devem ter coisa melhor pra fazer. Ficou na saudade, gravada em minha memória. Espero que coisas boas continuem a serem produzidas, coisas que me apaixonem intensamente. Sei que não é fácil, estou bem mais seletiva e não é qualquer besteirol que penetra fundo em mim.
Agradeço a oportunidade de ter acompanhado essa série, acrescentou bastante em minha vida e hoje me despeço dela já sentindo muitas saudades.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Imperfeito sim e com orgulho

Ninguém é perfeito. Essa é a frase típica que usamos pra desculpar nossos deslizes. O perdão é nobre, quem ama perdoa. Vivemos num mundo onde tudo é relativo e não existe certo nem errado. Com esse princípio moral estamos construindo nossa sociedade. A partir daí estamos educando as crianças de hoje, onde julgar é errado, pois todos têm seus erros, onde as regras existem para serem quebradas porque afinal o proibido dá mais prazer.

Começo com essas constatações óbvias porque cada vez mais observo isso no mundo e vi que aparentemente r essa realidade veio pra ficar. As pessoas não têm limites e como não os tem não conseguem transmitir a ninguém. Essas que vivem no ‘liberou geral’ são no mínimo as menos hipócritas, vivem de fato no que acreditam e não dão a receita de algo que não tomariam para si. O pior são os que arrebanham ingênuos com a promessa de algo que não, acreditam pra poder tirar vantagem. Assim é muitas das religiões, pregam a justiça, honestidade, mas fazem o contrário em suas vidas e em relação com os seus fiéis.

Muitos por constatarem essas falhas no âmbito espiritual simplesmente descreram de tudo. Não apenas dos mitos, deuses, céu, anjos e afins, mas simplesmente desacreditaram na capacidade do homem ser bom, honesto. A falta da idéia de um castigo faz com que as pessoas ajam da pior maneira possível: “ninguém ta vendo o que é que tem? O que é que tem pegar oi que é do outro? Deus não vai me castigar” ou pior “Deus perdoa”. Não se fala aqui e obedecer as regras cegamente sem questionar, mas isso vai muito além, estamos falando da absoluta ausência de caráter, ética, respeito, moral.

Com isso temos cada vez mais marginais, ladrões, vigaristas, pessoas que não tem a mínima ética e comprometimento consigo mesma muito menos com a sociedade. O que vemos então é um mundo onde ninguém pode confia em ninguém. Não se pode confiar na palavra de uma pessoa, caráter é uma palavra em desuso, démodé, talvez caia bem num discurso inflamado mas sem significado real nos dias de hoje.

As pessoas com isso estão cada vez solitárias, revoltadas. Não vivemos em sociedade a toa. Precisamos um do outro, precisamos dos nossos desconhecidos, dos nossos amigos, familiares. Mas esses quase em sua totalidade não são confiáveis. Quem se ilude com a reciprocidade das relações muitas vezes acabam decepcionados, amargurados, feridos. Estamos vendo uma multidão de pessoas que tem como companhia a solidão de relacionamentos sinceros. A tecnologia pode nos fazer mais conectados, mas de que adianta trocar informações se elas na maioria são inverídicas? Falta sentimento, solidez. O bom desse distanciamento é que geralmente nunca sabemos se é verdade ou não e o não saber nos permite criar um relacionamento virtual imaginário o que pode ser por vezes mais satisfatório que a realidade dura.

E a falta de toque, abraços, afeto? Como viver sem? Pra isso nós demos um jeito, inventamos o “ficar”, se você está carente pode pegar quem quiser. O sexo casual não é apenas a manifestação da libido, pois, convenhamos para se satisfazer basta usar as mãos, mas o outro é necessário pra saciar a fome de interagir, de se sentir e ser sentido e o sexo é a forma que se tem em ter esses momentos de fantasia (nem sempre sexuais) realizados. As prostitutas relatam que nem sempre seus cliente querem apenas sexo, muitos querem desabafar, conversar, mas não confiam em ninguém, então pra não se decepcionar e ter seu momento de intimidade completo mesmo que falso pagam uma prostituta, ou como fazem atualmente ficam com alguém que nem se sabe o nome e nunca mais procuram ou procuram apenas quando a carência bater.

Temos também aqueles que se perdoam sempre. Fazem as coisas erradas, sentem até um gostinho amargo pelo que fizeram, mas conseguem lidar bem com suas falhas e até se orgulham delas. São aqueles que sabem que não é o ideal, mas até que vale a pena, o prazer de errar supera a culpa e a culpa é sanada rapidamente pelo auto perdão pois afinal humanos erram...

Não sei como a sociedade evoluiu até aqui. Nem sei se posso chamar isso de evolução. Se agora os erros não serão corrigidos o que teremos no futuro? Se ninguém confia em ninguém e a depressão cresce exponencialmente o que teremos? Todos serão dependentes do prozac, deveriam logo liberar todas as drogas. Cada vez que o mundo perde sua humanidade nos tornamos dependentes de substancias químicas pra suprir nossas carências e fraquezas.
A falta de sentido em tudo e em todos tornou tudo perigosamente fugaz. A vida não vale muito, morreu acabou vire a página; fazer o outro sofrer não pesa a consciência de ninguém, faz parte; o mundo é dos mais espertos e assim vai se levando. Levando pra um futuro que se continuar assim vai ser cada vez mais difícil de se viver.
Pode até parecer que essa é a opinião de um velho moralista dono da verdade. Provavelmente essa crise de valores em que vivemos hoje é uma resposta a toda repressão vivida anteriormente. Estamos vivendo no extremo inverso. Assim como a verdade absoluta pode ser danosa a relatividade absoluta também.

Queria terminar com uma mensagem de esperança, otimismo. Estou procurando algo que me leve a crer que isso seja possível. Enquanto busco posso adiantar que o futuro depende de nós (soou como um clichê, mas eles têm sua validade). O mundo mudou tantas vezes por quê ele se estagnaria aqui? A História não acabou, disse alguém. Mesmo que não haja muitos motivos para esperança é importante acreditar se quisermos continuar vivendo, talvez seja mais uma ilusão, mas o que não é ilusão nessa vida? Se a ilusão nos faz viver felizes, se ela coloca ordem nas coisas que seja bem vinda. Melhor uma ilusão do que a essa realidade em que traz confusão, tristeza, medo e solidão. Não disse nada de novo, só comentei o óbvio que a muitos incomoda, a inércia que nos faz contemplar tudo como se fosse um quadro se esquecendo que nós fazemos parte dessa pintura e que nós podemos alterá-la. Será que podemos ou queremos?